sábado, 25 de janeiro de 2014

Minha vida nas páginas de um livro


Grande parte dos livros tem o poder de nos fazer fugir da realidade, mergulhar num universo bem diferente do nosso e sonhar com personagens ficcionais. Mas há vezes em que a leitura serve para encararmos nossos próprios fantasmas, como ocorreu comigo recentemente.

Após ver em um blog literário a indicação de "A Menina de Vidro", da autora Jodi Picoult, fiquei super curiosa e já reservei um lugarzinho na minha estante. A obra conta a história de uma menina com Ostêogenese Imperfeita, ou "Ossos de Vidro", que nasceu com várias fraturas e fez outras tantas ainda na infância. Imediatamente, pensei: "Opa, essa é a minha vida!"

Quando ganhei de presente de Natal, levei poucos dias para "devorar" as quase 600 páginas. Saía de casa e só pensava em voltar para continuar lendo e chegar logo ao final, tamanho encantamento que senti com a história. Era a minha vida retratada em cada linha, em cada parágrafo, em cada página que eu virava com lágrimas nos olhos.

A história gira em torno da pequena Willow, que até os cinco anos já havia feito mais de 50 fraturas (bateu meu recorde, até os seis eu tive 25). Após uma desastrosa viagem à Disney, os pais são presos por suspeita de maus tratos, já que ninguém conhecia aquela doença rara, apenas verificaram que a menina tinha vários ossos quebrados. Indignados com a humilhação, eles decidem procurar um advogado para processar todos os envolvidos.

É aí que a história muda de rumo. O advogado diz aos pais de Willow que dificilmente eles ganhariam essa causa, já que as autoridades competentes fizeram seu papel, zelaram pelo bem-estar da menina acima de tudo. Espertalhão, o advogado explica que o processo pode ser outro: o de nascimento indevido.

Esse tipo de processo consiste em responsabilizar judicialmente o obstetra, por não ter diagnosticado a doença do bebê a tempo, dando à mãe a opção de interromper a gravidez. É claro que esse tipo de caso só existe nos Estados Unidos, onde o aborto é liberado.

Voltando ao livro, há muitos conflitos envolvidos, já que a médica que acompanhou a gestação era também a melhor amiga da mãe de Willow. O pai da menina também não aceita entrar com o processo, pois jamais diria no tribunal que não queria que a filha tivesse nascido.

Mas a mãe, Charlotte, leva a ação adiante, contrariando a tudo e a todos. Em busca de uma boa indenização para poder dar um futuro melhor à filha, ela e todos os envolvidos pagam um preço muito alto. Como diz a sinopse do livro: "Até onde você iria para garantir o futuro de um filho?" Ao longo do processo, muitas coisas se quebram, e não estou falando apenas dos ossinhos de Willow. Certas "fraturas" são mais profundas, não há gesso ou cirurgia que dê jeito.

Fiquei angustiada, com raiva da mãe de Willow durante todo o livro e não mudei minha opinião depois da última página. Uma criança especial tem um custo muito alto, financeira e emocionalmente, mas nada justifica o que a personagem fez, destruindo a vida de muita gente ao redor. Minha família passou e passa muito trabalho comigo, mas em nenhum momento, nem de brincadeira ou para ganhar uma ação judicial, eles diriam que seria melhor que eu não tivesse nascido ou que fosse "normal". Sei que se tivesse opção de escolher, minha mãe não me trocaria nem pela Gisele Bündchen. Sim, a modéstia é minha maior qualidade, hehe.