sábado, 31 de dezembro de 2011

Balanço de 2011

Último dia do ano, é chegada a hora de olhar pra trás e relembrar o que passou. Foi um ano marcante no que diz respeito às políticas públicas voltadas para pessoas com deficiência. Finalmente os governos estão vendo essas pessoas como cidadãos, que merecem ter seus direitos assegurados.
Para mim, particularmente, foi um ano de muitas conquistas. Desde as mais simples, como rampas ideais que facilitaram a minha vida, até as mais importantes, como o espaço mensal no Diário Gaúcho, onde posso contar um pouco das minhas aventuras.
É claro que certas coisas, infelizmente, não mudam. Continua sendo difícil pegar um cineminha e cada vez vejo mais absurdos por aí. Mas isso tudo faz parte do cotidiano e aos poucos tudo vai mudando pra melhor.
Em setembro, participei do seminário "Mídia e Deficiência", no qual foram discutidas grandes ideias que serviram como o pontapé inicial de várias iniciativas que irão melhorar a vida das pessoas com deficiência. O mesmo evento quase foi palco de mais um tombo meu, mas felizmente não passou de um susto.
2ª passeata do Movimento Superação superou (com o perdão do trocadilho) a primeira edição e levou dezenas de pessoas com deficiência e simpatizantes ao Parque da Redenção. O diferencial foi a presença de várias autoridades, que celebraram o início da primeira Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.
No final do ano, além da correria típica dessa época, enfrentei um exame que foi praticamente um "parto", de tanto que sofri pra me equilibrar no aparelho. Também tive meus dias de inferno astral, mas tentei levar tudo na esportiva.
Pra coroar um ano tão movimentado, ganhei um presentão de Natal. Fiquei em segundo lugar no concurso promovido pelo meu amigo Jairo Marques, cujo prêmio é uma cadeira de banho chiquetésima.
Entre confusões, dores, brigas, conquistas e muitas aventuras, superei mais um ano. Que venha 2012, com tudo de melhor que puder nos trazer. O melhor é fazer um balanço final positivo e agradecer por tudo de bom que aconteceu nos últimos meses.
Ficar lamentando as coisas ruins de 2011? Bem capaz!
Feliz 2012!!!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A intenção foi boa, mas...

Já cansei de falar aqui sobre os tais banheiros adaptados, mas nunca é demais debater sobre esse assunto. 
Há pouco mais de um mês, fui a uma cafeteria na Zona Sul de Porto Alegre e vi uma plaquinha e uma amiga comentou, após voltar do banheiro, que o mesmo era adptado para pessoas com deficiência.
Sendo assim, já que eu estava "necessitada", fui conferir. Qual não foi minha surpresa ao constatar que a minha cadeira de rodas não passava na porta do banheiro! Que legal, colocaram barras, rebaixaram a pia e esqueceram do básico...
Mas o responsável pelo estabelecimento pediu mil desculpas e já começou a tirar as medidas e pedir opiniões sobre o melhor a fazer para deixar o sanitário completamente acessível. Na saída, ele garantiu que dentro de poucas semanas eu poderia ir até lá para fazer um "test-drive" do banheiro novo. Assim que tiver novidades, volto a falar sobre isso aqui,
É assim que, aos poucos, as pessoas vão se conscientizando. O caminho é longo, mas vale a pena.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia do inferno astral

Há dias em que simplesmente tudo acontece. Não sei se é um alinhamento dos planetas, inferno astral, azar ou se, naquele dia, estou mais sensível ao que acontece ao redor.
A verdade é que hoje foi um desses dias. Saí de casa cedinho pra ir a uma consulta médica, uma avaliação para que eu tente conseguir um aparelho auditivo gratuitamente. Sim, porque um dos meus "defeitinhos de fabricação" é ser meio surdinha. A perda auditiva vai se agravando com o tempo em pacientes com Osteogênese Imperfecta, e ultimamente tem me incomodado bastante ter que perguntar toda hora: "quê? hein?".
Pois então, já na chegada ao hospital, a recepcionista mandou que eu entrasse em uma fila para ser atendida. É, a velha lei de que cadeirante tem prioridade de atendimento quase sempre fica só na teoria. Obedeci, esperei a fila andar e, ao ser atendida, outro probleminha. O balcão altíssimo impedia a moça de me enxergar, tive que ficar lá, balançando os braços, para ser vista.
Enfim, consulta feita, hora de realizar uma audiometria, exame que ajuda a detectar a perda auditiva. Foram duas horas de espera até eu ser atendida. Resignada, comentei com minha mãe: "o que são duas horas pra quem terá que esperar dois anos por um aparelho?". Sim, porque o Governo até fornece aparelhos auditivos, mas são apenas 40 por ano, sendo que a fila de espera é de cerca de 600 pessoas. Sendo assim, segundo o médico, são dois anos até ser chamada.
Mais uma surpresinha: a médica queria que eu entrasse em uma cabine cuja porta era estreita demais, portanto a cadeira de rodas não passava. Sem noção, a doutora perguntou:
- Mas ela não vai no colo?
Não é a primeira vez que um exame simples vira uma "novela", como já contei aqui.
Resumindo, pela minha cara de insatisfação, ela percebeu que lá eu não entrava nem amarrada. Fiz o exame em outra sala, onde a cadeira entrava perfeitamente.
Fim da saga? Nããããão!
Saindo do hospital, fomos dar uma voltinha no supermercado. No estacionamento, minha mãe se preparava para colocar o carro na vaga para deficientes, quando um taxista se atravessou na frente, pronto pra ocupar um lugar que não lhe pertencia. Se não fosse um segurança chamar a atenção do moço, ele tinha estacionado na vaga privativa, na maior cara-de-pau.
Antes das compras, fui fazer um "pipi-stop" básico, mas adivinha se o banheiro pra cadeirantes estava desocupado? Uma senhora saiu lá de dentro bem lépida e faceira, e ainda deu a tradicional desculpinha esfarrapada:
- Só entrei aqui pra lavar as mãos.
Bom, agora vai dar tudo certo, pensei. Ó, santa ingenuidade! A porta do banheiro estava sem chave, porque cadeirante não precisa de privacidade, né? Já até comentei isso no último post... Minha mãe teve que ficar "de guarda" na porta, ainda assim quase fui pega com as calças na mão, literalmente, quando a moça da limpeza tentou entrar.
Depois disso tudo, achei melhor ir pra casa e não sair mais. Hoje a bruxa tava solta...
E tem gente que acha minha vida fácil.{#}

sábado, 3 de dezembro de 2011

Absurdos que vemos por aí - parte 3


Olha, que raridade, um banheiro adaptado! A felicidade da pessoa acaba quando olha pra esse degrau na entrada do dito-cujo. Legal, o cadeirante pode até querer fazer suas necessidades, mas como faz pra entrar no banheiro com esse "obstáculo"?
Não bastasse isso, a porta do banheiro tem um espaço e não fecha mais do que isso. Quer dizer: privacidade zero!
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A gente morre e não vê tudo...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O banheiro ideal


Estou em "lua-de-mel" com o banheiro novo da empresa onde trabalho. Após mais de um mês de reforma, um sanitário adaptado foi colocado à disposição das pessoas com deficiência. E valeu a pena esperar!
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O novo sanitário para pessoas com deficiência da RBS atende a todas as especificações necessárias: pia rebaixada e com fácil acesso para posicionar a cadeira de rodas, barras laterais, acessórios ao alcance (inclusive o ganchinho para pendurar a bolsa), um mimo! E pasmem, até o espelho é exatamente como deve ser, reclinado. Sim, porque senão não há como o cadeirante observar sua beleza, né?
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Bom seria se todas as empresas se adequassem às pessoas com deficiência. Não basta respeitar a lei de cotas, é preciso adaptar as instalações de forma que possamos ir e vir como qualquer cidadão.
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domingo, 20 de novembro de 2011

Exame tumultuado


Há alguns meses precisei fazer um exame que, para a maioria das pessoas, é uma coisa simples. Mas o tal raio-x da face foi uma verdadeira tortura pra mim...
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O motivo de tanto estresse é que não havia uma cadeira que se adequasse à altura do equipamento. Para os "caminhantes" é fácil se abaixar até conseguir encaixar a cabeça no lugar certo, mas e eu? COMO FAZ?
Experimentei umas quatro cadeiras diferentes, com e sem almofadas, colocaram pedaços de isopor embaixo do meu queixo pra tentar manter a altura necessária e...nada. Fiz umas dez tentativas, em todas o raio-x saía tremido, tamanha a tensão em que eu me encontrava.
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Ora, imaginem ficar "pendurada" em uma cadeira altíssima, sem ter onde se apoiar, morrendo de dor na perna (que também não tinha apoio)... Enfim, pelas fotos vocês podem imaginar o show de horrores que foi. O lugar onde eu sentei parecia um daqueles instrumentos de tortura da Idade Média, sem exagero.
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Enfim, quase duas horas e muito suor frio depois, resolvi desistir e levar as chapas que ficaram menos piores pro dentista avaliar. Mas diante de tudo isso, fiquei pensando: e se fosse uma pessoa que não tem movimentos do pescoço pra baixo, por exemplo? Não haveria a menor condição de fazer o tal exame em um paciente que só ficasse deitado, não é? Se pra mim foi difícil, imaginem para quem se encontra em situações mais críticas. Um hospital deveria estar mais preparado para esse tipo de situação. 

domingo, 9 de outubro de 2011

Absurdos que vemos por aí - parte 2


Não se pode elogiar... Quando há banheiro adaptado e as pessoas incrivelmente respeitam a bendita plaquinha, o dito-cujo serve de porta-sacos-de-lixo.
Isso quando não usam como depósito para baldes, vassouras, produtos de limpeza...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Absurdos que vemos por aí - parte 1


Alguém me explica qual é a utilidade de um gancho lá no alto na porta de um banheiro pra cadeirantes?
- Treinar basquete, tentando acertar a bolsa no gancho.
- Ficar olhando e pensando "quem teve a brilhante ideia?"
- Brincar de atirar argolas no alvo.
- Só pra enfeitar.
- Pra nada, é pegadinha mesmo.
Sério, nem uma pessoa "normal" consegue alcançar o bendito gancho. A gente morre e não vê tudo...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Para-raios de malucos


Se eu conto parece piada, mas a verdade é que eu costumo atrair todo tipo de gente estranha. É eu passear por aí e volta e meia acontecem situações surreais. Semana passada, por exemplo, quando eu chegava ao meu curso de italiano, um rapaz fez cara de piedade e disse à minha mãe:
- Estimo as melhoras dela, viu? É gente como ela que me dá forças pra continuar vivendo.
Pra muita gente, cadeira de rodas é sinônimo de doença, por isso ele deve ter "estimado minhas melhoras". Obrigada, tio, mas tô vendendo saúde, tá?
Em outra ocasião, uma senhora, trajada com um uniforme da seleção brasileira dos pés à cabeça (antes que perguntem, a Copa já havia acabado há meses) me abordou no meio do shopping e começou:
- Eu tava te olhando de longe, vendo as tuas asas de anjo, essa luz ao redor...Lembrei que já tinha sonhado com essa imagem, que já tinha te visto nos meus sonhos...
Oi? Quem me conhece sabe que de anjo eu só tenho a cara, hehe. Entenderam agora porque eu sou "para-raios de maluco"?
E não para por aí! Também costumo atrair personagens como Papai Noel (o bom velhinho acha que tenho cara de criança e sempre me oferece balinhas), mímicos, bonecos como Zé Gotinha, Fritz e Frida, coelhos gigantes... Isso sem falar nos palhaços. Tenho trauma de palhaços, acho que desde que um deles me parou na Feira do Livro e começou a fazer versos em minha homenagem.
Minha vida é mesmo uma comédia...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Passeata do Movimento SuperAção - cada vez melhor!


No último domingo aconteceu a 2ª edição da Passeata do Movimento SuperAção em Porto Alegre. Mais uma vez, o Parque da Redenção foi palco de um evento inesquecível, no qual todos se uniram para celebrar o início da primeira Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.
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O dia estava perfeito, já que até "São Pedro" colaborou para que tudo saísse conforme o planejado. Como falou o Secretário da Justiça e Direitos Humanos Fabiano Pereira, o sol garantiu o sucesso da passeata, "representando que a natureza é bela porque respeita as diferenças."
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Encontrei muitos amigos que fazem parte dessa luta, com destaque para Juliana Carvalho, responsável pela organização do evento. A presença de várias autoridades foi fundamental para a divulgação das políticas públicas que começarão a ser adotadas daqui pra frente.
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Durante a solenidade de abertura, o presidente do Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência, Roberto Oliveira, levantou uma questão importante:
- As leis que falam das pessoas com deficiência muitas saem dos gabinetes e não consultam os maiores interessados.
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Secretário Municipal de Acessibilidade Paulo Brum falou sobre a assinatura do Plano Diretor de Acessibilidade e ressaltou:
- Porto Alegre em breve será uma referência nacional no que diz respeito a acessibilidade e respeito as pessoas com deficiência.
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A passeata serviu para dar mais notoriedade às questões relacionadas a pessoas com deficiência. É preciso sair pra rua, "agitar" e mostrar ao mundo que estamos na luta pelos nossos direitos. O vereador Engenheiro Comassetto comentou:
- Este movimento é importante para superar o que nós chamamos de invisibilidade. a sociedade não consegue ver as pessoas com deficiencia porque elas não conseguem enfrentar as dificuldades do dia-a-dia devido a falta de estrutura publica.
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E é isso mesmo, as pessoas com deficiência só não estão mais atuantes na sociedade por causa das barreiras arquitetônicas que a cidade impõe. Chegou a hora de mostrar que Porto Alegre pode sim ser "uma cidade para todos", como disse o prefeito José Fortunati na solenidade:
- Quando andamos pela cidade percebemos claramente que ela é feita por pessoas diferentes. As diferenças são inúmeras e cabe ao gestor público pensar na cidade para todos.
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Plano Diretor de Acessibilidade foi aprovado segunda-feira, dia 22. Entre as ações previstas, estão a reestruturação de calçadas e prédios públicos, instalação de equipamentos sonoros e táteis que facilitem a vida dos deficientes visuais, entre outras iniciativas que ajudarão a tornar Porto Alegre um exemplo nacional de acessibilidade.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Seminário "Mídia e Deficiência" - o evento do ano


No último dia 27 tive o prazer de participar de um evento histórico na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Organizado por Juliana Carvalho, coordenadora do projeto Assembleia Inclusiva e do Movimento Superação RS , o Seminário "Mídia e Deficiência" discutiu com maestria o papel dos meios de comunicação no processo de inclusão. Entre os palestrantes, estavam representantes dos principais veículos de imprensa do Estado, políticos e jornalistas. Mas a cereja do bolo foi a presença do meu amigo Jairo Marques, chefe de reportagem da Agência Folha e dono do blog Assim como você.
Cheguei cedinho para participar dos principais debates, mas levei um susto logo na entrada do auditório. O elevador para cadeirantes emperrou e minha cadeira virou pra frente, quase me derrubando no chão. Não fosse a agilidade da minha mãe salvadora, nem sei o que teria acontecido. Mas dessa vez foi só um susto, graças a Deus.
Voltando ao que interessa, logo na abertura do Seminário o presidente da FADERS (Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Pessoas Portadoras de Deficiência e de Altas Habilidades no RS), Cláudio Silva, deixou bem clara a importância do evento, mas ressaltou que "acessibilidade é feita no dia-a-dia, no cotidiano". E é isso mesmo que devemos ter em mente, que não basta uma discussão isolada para resolver essas questões.
O Secretário da Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira, esteve presente ao evento como representante do governador Tarso Genro. Ele destacou que as pessoas com deficiência precisam ter mais espaço na mídia e reforçou a importância de preparar a cidade para um evento como a Copa do Mundo de 2014. Mas deixou bem claro:
- A Copa é só uma ideia, temos q nos preparar para a vida.
Os representantes dos veículos de comunicação do Estado discorreram sobre as tecnologias que cada emissora utiliza para facilitar a compreensão de pessoas com deficiência visual e auditiva, por exemplo. Givanildo Menezes, gerente de jornalismo da Record, falou sobre a importância da mídia na sociedade:
- O que a gente diz é tomado como verdade pelo público, somos formadores de opinião. Se a gente disser q a pessoa com deficiência é diferente, se colocar como coitadinho no centro dessa discussão, é assim q o público vai enxergar.
O jornalista Jairo Marques, meu querido amigo e defensor da ideia de que os "malacabados" irão dominar o mundo, deixou bem claro como as pessoas com deficiência esperam ser retratadas na mídia e no cotidiano:
- É preciso olhar os deficientes como pessoas da sociedade que querem trabalhar, ir ao clube, ao futebol... É preciso q a mídia enxergue essas pessoas como cidadãs.
Jairo mostrou algumas matérias especiais que foram feitas pela Folha de S. Paulo. Todos os cadernos do jornal apresentaram alguma questão referente a pessoas com deficiência, revelando que estamos em todos os setores da sociedade.
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Eu e o querido Jairo Marques, meu ídolo
O painel seguinte abordou a inclusão de pessoas com deficiência na mídia e como é possível retratar essas questões sem cair nos 'lugares comuns" ou rótulos como "superação", "coitadinhos"... O repórter da RBS Manoel Soares apresentou algumas matérias exibidas pela emissora, entre elas, uma que mostrava uma menina surda no papel de "repórter cidadã".
Outra presença importante no evento foi a do Coordenador do curso de Jornalismo da PUCRS, Vitor Necchi. Tive o prazer de ser aluna dele em várias cadeiras da faculdade e ouvi-lo defender as questões de acessibilidade e inclusão só aumentou minha admiração. Vitor falou que não devemos ter paciência com a mídia, principalmente no que se refere a preconceitos e "rótulos" tão amplamente mostrados nos meios de comunicação. Isso vale para todas as minorias que, segundo ele, são retratadas de forma equivocada pela imprensa.
Apesar de não poder ficar até o final do Seminário, já saí de lá com muitas ideias e novas formas de pensar sobre questões sobre as quais muitas vezes temos uma visão errada. O saldo foi muito positivo, não só para minha vida profissional, mas também como cidadã e, é claro, como uma pessoa com deficiência que batalha para ser inserida na sociedade de forma natural e sem "traumas".

domingo, 24 de julho de 2011

Cinemas x cadeirantes - a saga continua


É incrível como a sociedade acha que deficientes não têm direito a uma vida social como todo mundo. Ir ao cinema, como já contei aqui, é uma aventura com desfecho imprevisível.
Semana passada, curtindo meus últimos dias de férias, decidi ir ver o último filme da saga "Harry Potter". Pra evitar surpresas, fui ao único cinema onde tenho certeza de que há acesso para cadeirantes, o GNC Iguatemi. Porém, ao chegar lá, fui informada de que a sessão já estava lotada. Normal para um filme de sucesso que havia estreado há poucos dias. A moça da bilheteria disse que os reservados para cadeirantes estavam disponíveis, mas as cadeiras vizinhas a estes lugares estavam todas ocupadas. Como eu estava acompanhada do meu primo, não fazia sentido ir sozinha, afinal, a graça está em comentar o filme com alguém, né?
Até aí tudo bem, mas depois me bateu uma dúvida: será que as poltronas do cinema localizadas ao lado dos espaços para cadeiras de rodas não seriam destinadas aos acompanhantes dos cadeirantes? Enfim, desisti do filme naquele dia...
No dia seguinte, era uma questão de honra. Fui obrigada a ir ao Cinemark do Bourbon Ipiranga, já que era mais perto da minha casa e tinha ingresso promocional naquele dia. Mas lá há uma escadaria dentro das salas, isso eu já estou careca de saber. Mas como sempre posso contar com aquela "mãozinha amiga" (ou mãezinha amiga, melhor dizendo), encarei.
Pra minha surpresa, o rapaz da bilheteria resolveu encrencar. Disse que eu só poderia assistir ao filme na primeira fila, pois não há outro espaço para cadeirantes. Nos fizemos de desentendidos e dissemos que não tinha problema, a gente dava um jeito de subir. Ao que o funcionário respondeu:
- Tudo bem, mas o cinema não se responsabiliza se der algum "poblema".
Na hora deixei passar, fingi que não ouvi e fui ver meu filmezinho sossegada. Eis que me deparo com a notícia de que a cadeirante Vitória Bernardes foi barrada no mesmo Cinemark Ipiranga. O caso dela foi ainda mais grave, já que o gerente do local proibiu a moça de subir, mesmo com a ajuda de seus acompanhantes, e ainda disse em alto e bom som que o cinema não tinha estrutura e que era feito para "pessoas normais".
Oi? Sinceramente, considero "anormais" as pessoas que falam esse tipo de besteira. Com toda a razão, Vitória vai processar a empresa e certamente vai ganhar essa batalha.
Em outro caso semelhante, um rapaz cadeirante recebeu uma indenização do GNC Praia de Belas, por não ter conseguido assistir a um filme por falta de acesso no local. Lá mesmo, aliás, eu já enfrentei o mesmo problema, lembram? A diferença é que "deixei pra lá". Burrice minha, reconheço... Se eu fosse entrar na justiça cada vez que passo por esse tipo de situação, já estaria rica. Tô perdendo dinheiro, dãããã! {#}

quarta-feira, 13 de abril de 2011

As rampas ideais


Pra não dizerem que eu só reclamo, hoje vou falar de uma boa iniciativa em termos de acessibilidade. No prédio onde eu trabalho foi feita uma rampa nova na entrada. Vejam que ótimo exemplo de como facilitar a vida dos cadeirantes.
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Na verdade são quatro rampas, todas com pouquíssima inclinação e que possibilitam que eu suba e desça sozinha. Adorei, testei e aprovei com louvor.
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É uma pena que na maioria dos lugares, o conceito de rampa de acesso é mal interpretado. São rampas íngremes, praticamente impossíveis de se subir sem o auxílio de outra pessoa. E o que dizer dos acessos às calçadas, que geralmente são ocupados por carros? Enfim, parece uma luta sem vencedores...
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Falando nisso, no sítio do meu avô também há uma rampa nova, feita especialmente pra mim. Especialmente mesmo, vejam que é até personalizada, um amor.
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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ser cadeirante custa caro

Cada vez mais me convenço que deficiente físico tem que nascer rico. Sim, porque há gastos que as pessoas "normais" não possuem, mas que são cruciais na vida dos cadeirantes.
Vejamos o exemplo da cadeira de rodas. Um modelo bom e confortável não sai por menos de R$ 1.500! Se for motorizada, gira em torno de R$ 7.000! E os gastos não param por aí. As cadeiras de rodas são como os carros, precisam de manutenção periódica e seguidamente é necessário trocar algumas peças.
Eu uso uma cadeira Jaguaribe, modelo infantil, que pode não ser a mais cara do mercado, mas também não é tão baratinha assim. Por enquanto, na falta de verba para trocar meu "carro", vou fazendo alguns ajustes no veículo antigo mesmo. NoS veículoS, melhor dizendo. Tenho duas cadeiras iguais, uma com cinco anos de uso e outra com quase quatro. Então, quando alguma peça da cadeira em uso estraga ou fica gasta, vamos trocando pelas peças da cadeira "reserva". Chegou a um ponto em que não sei mais qual das cadeiras de rodas estou usando, as duas parecem "Franksteins".
Porém, quando não há mais trocas a fazer, é preciso comprar peças novas. E é aí que vem a "facada". Os ítens da cadeira de rodas, se comprados em separado, acabam saindo mais caro do que uma cadeira nova. Semana passada tive que comprar uma almofada nova, que saiu por quase R$ 70,00. Claro que é ortopédica, uma maravilha, mas mesmo assim é um absurdo. E o mesmo ocorre com o assento, as rodas, cada troca de peças é um roubo.
Vai ver a culpa é minha, quem manda usar uma cadeira fashion? Podia me contentar com um modelo de adulto, mais pesado e desconfortável, como já fiz anos atrás. Mas eu quase sumia sentada naquela cadeira, não combinava com um ser pequeno e delicado como eu... Quem manda ser fresca, agora aguenta. Não adianta, assim que sobrar um dinheirinho (sonha, Michele...) vou comprar uma cadeira ainda mais chique, toda cor-de-rosa, um mimo. {#}
Falando sério, fico imaginando a situação de quem não tem condições de pagar por uma cadeira de rodas, nem por aquelas mais simples. Como faz? Usa um carrinho de mão? Vai no colo? 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Voltei!

Podem me xingar, sei que não dou notícias por aqui desde...o ano passado. Mas sabem como é, final de ano, Natal, Ano Novo e eu sempre na correria. Trabalhei muito nas últimas semanas e já estou contando os dias para as merecidas férias.
Só pra não dizerem que abandonei o blog, passei pra contar mais dois probleminhas que tive com acessibilidade ultimamente. Novamente aconteceu em um grande shopping de Porto Alegre, que deveria facilitar a vida de todos.
Coincidência ou não, foi no mesmo shopping onde enfrentei aquela escadaria pra ir ao cinema. A dificuldade começa logo no estacionamento, mais especificamente no elevador. Juro que tentei me esticar toda pra alcançar o botão, mas eis que lá estava um cinzeiro enooooorme, pesado demais para ser empurrado.
Não parou por aí. Na hora de validar o ticket do estacionamento, adivinhem se o guichê era da minha altura. A atendente ficou olhando pra frente, com cara de paisagem, sem perceber que eu estava ali embaixo, gritando para que ela me atendesse. Quando finalmente a moça viu que eu estava ali, nem se deu ao trabalho de se abaixar um pouco para me atender, eu que me esticasse para alcançar o dinheiro.
Mas 2011 tá aí, como eu continuo minha batalha diária de trabalho, estudos e diversão (que ninguém é de ferro), fatalmente ainda terei muitas histórias pra contar.