segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A garota da capa


A semana foi cheia, como eu já havia contado aqui. Além da Passeata do Movimento SuperAção, estive envolvida em uma matéria sobre acessibilidade para o Diário Gaúcho.

Trabalho como redatora do DG há três anos, mas raramente saio pra fazer matérias na rua, afinal, é bem complicado. Mas há algumas exceções, como a reportagem que fiz em 2011 sobre acessibilidade no Centro de Porto Alegre. Afinal, ninguém melhor do que uma jornalista cadeirante, que sente na pele as dificuldades de andar pelas ruas da cidade, pra escrever sobre isso, né?

Passados dois anos dessa primeira matéria, resolvi voltar aos lugares visitados pra ver o que mudou. Na verdade, o intuito principal foi fazer um "test-drive" na rampa da Catedral Metropolitana, instalada há pouco tempo.




Fui, então, me aventurar de novo no Centro, na companhia do fotógrafo Mateus Bruxel. Na Catedral, tudo ótimo, a rampa é acessível, com uma inclinação ideal e possibilita o acesso ao prédio. Finalmente conheci esse ponto turístico da minha cidade por dentro!

Em frente à Catedral, fica a Praça da Matriz, outro patrimônio histórico do município. Justamente por isso, os reparos estão demorando a serem feitos, já que dependem de verba do Governo Federal. Os buracos continuam lá, como verdadeiras armadilhas pra quem anda sobre rodas.

De volta à redação do jornal, comecei a escrever o texto e entrei em contatos com algumas fontes da Prefeitura de Porto Alegre. É jornalismo verdade, amigos!

Após os retoques finais na reportagem, fiquei naquela expectativa pra ver como ficaria impressa nas páginas do jornal. Toda matéria parece sempre a primeira, como se eu ainda fosse jornalista estreante, apesar de já ter alguns anos de praia. Para minha surpresa, apareci na capa do Diário Gaúcho! Como repórter e protagonista da reportagem, minhas fotinhos estavam lá, estampadas na primeira página. É muita emoção!

Depois do meu dia de celebridade, distribuindo autógrafos e recebendo mil curtidas no Facebook, fiquei com a sensação de mais um dever cumprido. A fama é ótima, é claro (mas fica difícil sair na rua com tanto assédio, hehe), mas o melhor é saber que estou colaborando para a divulgação de um problema que aflige muitas pessoas com deficiência. Denunciar o que está errado não é meu dever apenas como cadeirante, mas como jornalista e cidadã. Já que eu tenho o poder da palavra, fico feliz em usar isso para mostrar que ainda há muito a ser feito e elogiar as boas iniciativas.

Confiram a matéria aqui.

domingo, 27 de outubro de 2013

Passeata do Movimento SuperAção 2013




Tanta coisa pra contar aqui, mas por cansaço e falta de tempo acabei deixando, deixando, até que já faz quase uma semana e nada de eu ter conseguido atualizar o blog. Enfim, chegou a hora de colocar os assuntos em dia.



Pra começar, nada melhor do que mostrar mais uma edição da maravilhosa Passeata do Movimento SuperAção em Porto Alegre. Já é o quarto ano dessa festa linda, que reúne centenas de cadeirantes, deficientes visuais e auditivos, familiares, amigos e simpatizantes da causa. Ano passado, infelizmente, não consegui ir porque chovia muito. Mas ainda bem que este ano São Pedro colaborou, mandou um sol lindo e um calorzinho gostoso, perfeito pra curtir o evento no Parque Farroupilha, mais conhecido como Redenção.



Apresentações de dança, teatro e muita música animaram o antes e o depois da passeata. Mais uma vez, os queridos do grupo artístico Legato deram um show de talento e superação.

Pouco depois do meio-dia, a passeata teve início ao redor da Redenção. O líder nacional do Movimento SuperAção, Billy Saga, puxou o coro de "Acessibilidade, tchê! Siga essa ideia, tchê!". Quem passeava pelo Brique da Redenção parou pra olhar, aplaudir e muitos até se uniram ao grito de guerra. Lindo, lindo!



Apesar do cansaço, do calor que foi aumentando no início da tarde e dos obstáculos no meio do caminho (acessibilidade, por enquanto, só na teoria e nos sonhos de todos nós), seguimos em frente até o ponto de partida. E a cada ano o Movimento se fortalece, com mais divulgação da mídia e adesão das autoridades, que continuam prometendo tornar as cidades mais acessíveis para todos. Espero que não fique só no discurso...



Confiram aqui a matéria sobre a Passeata que publiquei no Diário Gaúcho.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Um show de equívocos

Foto: Divulgação, Opus

Quem tem dificuldades de locomoção sabe que ir a shows, cinema, peças de teatro ou qualquer atividade fora da rotina é uma verdadeira aventura. É preciso toda uma preparação prévia, busca de informações a respeito do lugar, se é acessível, como funciona o estacionamento, entre outros detalhes que fazem toda a diferença.

Cinemas, como já cansei de contar aqui, já não são mais aquele "bicho de sete cabeças" de antigamente. Em Porto Alegre, a maioria das salas é adaptada e conheço quais são as que oferecem melhores condições de acessibilidade. Porém, quando se trata de um local desconhecido, aí que a coisa complica.

Na última sexta-feira fui conferir o show de Ivete Sangalo, um espetáculo intimista só com as músicas românticas da cantora. Gosto muito dela, mas nunca me animei a ir a shows, porque sempre tem aquele repertório mais agitado, com a galera pulando sem parar, o que não combina comigo por motivos óbvios.

Enfim, pensei que seria um show tranquilo e ideal pra que eu prestigiasse Ivetinha. Aí não basta querer, ter grana pros ingressos, garantir um bom lugar e escolher uma roupa bonita. A saga é bem mais complexa...
Antes de tudo, comprei os ingressos, o meu especial pra cadeirantes, que eu imaginava ser em um local "VIP", pertinho do palco e coisa e tal...

Duas semanas antes do show, minha mãe foi ao Auditório Araújo Viana, local do evento, pra tentar descobrir se seria possível deixar o carro bem próximo à entrada. Após falar com funcionários do local e policiais militares, foi a produtora que concedeu autorização para deixar nosso veículo lá dentro, perto da porta. Ok, maravilha, nada pode dar errado. Santa ingenuidade.

No dia do show, fui toda linda e contente e pronta pra cantar com Ivete, mas logo na chegada, primeira surpresa desagradável: funcionários do Araújo Viana não permitiram que minha mãe deixasse o carro lá dentro, ameaçaram chamar o guincho, disseram que a produtora não mandava nada e que era proibido e pronto. Esse estresse inicial já acabou com boa parte da minha animação pro show, mas respirei fundo e fomos em frente. Deixamos o carro na rua, já que era o único jeito.

Ao entrar no local, fomos procurar nossos lugares. Surpresa desagradável 2 - a missão: o lugar pra cadeirante era beeeeeem longe do palco, mal dava pra enxergar. Sem contar que era meio de canto, com uma visibilidade péssima. Chamamos o segurança e questionamos se não poderiam me colocar lá na primeira fila, mas ele explicou que por normas de segurança, os lugares especiais ficam nas "pontas" da plateia, próximos às portas de saída. Bacana, o cadeirante não enxerga nada do show, mas pelo menos fica seguro.

Respirei fundo de novo e tentei curtir o show da melhor forma possível, mas até ali metade da minha alegria já tinha se esvaído. Ivete parecia uma formiguinha lá no palco, o som ficou péssimo (não sei se por acústica
ruim ou por estarmos muito longe) e fiquei o tempo todo pensando: "Por que tudo é tão difícil?"

Nessas horas, bate aquele desânimo. Pras pessoas "normais", sair pra curtir um bom show, peça de teatro ou qualquer espetáculo são coisas simples, sem estresse. Mas pra mim tudo se torna uma verdadeira novela, cheia de reviravoltas nem tão emocionantes... Por outro lado, também não dá pra passar o resto da vida trancada em casa, né? Pelo menos eu tenho bastante história pra contar.