quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Para usar o banheiro, aperte o botão"


Mais um capítulo da série "banheiros adaptados".
Sei que o assunto já está repetitivo, mas não posso deixar de contar aqui os absurdos no que diz respeito a banheiros para cadeirantes. É incrível como, mesmo tentando acertar, os arquitetos responsáveis por esse tipo de local fazem grandes "cagadas" (com o perdão do trocadilho).
Um dos maiores shoppings de Porto Alegre possui banheiros adaptados, como era de se esperar de um estabelecimento desse porte. Mas pra achar o dito-cujo, foi um sacrifício, tamanha a falta de sinalização e de informação dos funcionários. Após muito procurar, achamos o sanitário com a bendita plaquinha sinalizando que era adaptado.
Ok, até aí, tudo lindo. Porém, na porta do banheiro havia a plaquinha aí da foto, com a inscrição: "Favor solicitar pelo interfone a abertura da porta".
Baita ideia, ajuda a afastar os engraçadinhos que não precisam, mas adoram usar esses banheiros privativos. Quando fui esticar meu bracinho para pegar o interfone...
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Reparem na altura do negócio! Nem com muito contorcionismo eu consegui alcançar! Ainda bem que eu estava acompanhada da minha querida madrasta e das minhas irmãs, senão, teria feito "pipi" nas calças mesmo. Mas se um cadeirante estiver sozinho, precisa esperar por uma boa alma que faça a gentileza de apertar o botãozinho do interfone.
Gente, custava muito ter prestado mais atenção na altura do interfone? Ninguém se prontificou a sentar em uma cadeira de rodas e fazer um "test drive" antes? Fica a dica.

domingo, 31 de outubro de 2010

Onde é o banheiro?


Ir ao banheiro é algo tão normal e rotineiro, não é mesmo? Mas para as pessoas que usam cadeira de rodas, ou que possuem qualquer dificuldade de locomoção, fazer xixi fora de casa pode ser uma aventura.
Primeiro, é preciso achar o tão sonhado banheiro adaptado. Encontrando o dito-cujo, ótimo, meio caminho andado. Mas aí há outros probleminhas básicos:
- Quase sempre há alguém dentro do banheiro privativo. Geralmente é quem não precisa, que sai do banheiro caminhando perfeitamente, bem lépido e faceiro. E eu, apertada, fico esperando a infeliz criatura desocupar a moita. Deve ser algum problema psicológico, um certo "fetiche" que algumas pessoas têm por banheiros de deficientes, só pode...{#}
- Para evitar que pessoas que não precisam usem o banheiro pra cadeirantes, alguns lugares o mantém chaveado. Até aí, tudo bem. Mas até encontrar uma pessoa que disponha da bendita chave, corre-se o risco de molhar as calças.
- Por milagre, há banheiro adaptado, não está ocupado e nem chaveado, que lindo! {#} Mas aí... Entrando no local, descubro que está sendo utilizado como depósito! É preciso muito cuidado para não esbarrar em escadas, baldes e produtos de limpeza no meio do caminho.
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- Depois de muita maratona, finalmente a pessoa consegue usar o banheiro. Mas há outros detalhes que fazem a diferença: a altura da pia, do papel-toalha, do sabão líquido, do espelho (pra dar aquela retocada no batom, é claro), as barras nas laterais do vaso sanitário e o espaço físico, que deve ser bem amplo.
COMPTE_BLOGOF bemcapaz : Bem Capaz!, Onde é o banheiro?
COMPTE_BLOGOF bemcapaz : Bem Capaz!, Onde é o banheiro?
Percebam nas fotinhos que ilustram o post, que encontrei um banheiro à minha altura (literalmente). Tudo ótimo, tinha até uma rampa na saída da porta. Porém, era usado como depósito. Esbarrei numa escada e por pouco o troço não cai na minha cabeça...{#}

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Ainda vivo...

Voltei! Após uma longa ausência, resolvi tomar vergonha na cara e atualizar o blog. Não abandonei este espaço, o problema é a rotina corrida: trabalho, fisioterapia, cursos, enfim... Sem falar que o ano está passando tão depressa, que só agora me dei conta de que faz mais de um mês do último post. Há poucos dias ainda era Copa do Mundo, agora já nos encaminhamos pro segundo turno das Eleições, daqui a pouco é Natal, e foi-se 2010!
Falando em Eleições, juro que eu tento ter paciência pra escutar um pouquinho das propostas dos candidatos. Há quem prometa ampliar as políticas públicas que atendem pessoas com deficiência, criando mais chances de reabilitação, terapias, etc. Ok, tudo lindo, mas e o resto?
Saúde é fundamental, mas não é só isso. Precisamos trabalhar, estudar, sair às ruas sem medo de ser feliz. Pra isso, volto a bater na mesma tecla: a falta de infraestrutura. Não ouvi nenhum candidato dizer que vai dar um jeito nas calçadas esburacadas, fiscalizar os locais que não têm acesso a pessoas com dificuldade de locomoção ou obrigar as escolas e universidades a se adequarem dignamente para receber pessoas com deficiência.
Acho que só quem sente na pele os dilemas de se aventurar pela cidade grande sabe o que é preciso melhorar. Minha dica é que os governantes passem só duas horinhas numa cadeira de rodas, tentando cruzar o centro da cidade. Garanto que só assim muita gente vai abrir os olhos para detalhes que continuam sem solução.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O dia em que fui barrada

Já falei aqui sobre o adesivo especial que possuo no carro, que dá prioridade ao deficiente para estacionar em qualquer lugar do Brasil, já que há uma lei federal sobre isso.Porém, a situação que contarei agora exemplifica que muita gente ainda desrespeita isso.

Outro dia fui com minha família almoçar no Parque da Harmonia, onde meu tio acampa durante a Semana Farroupilha. Não é um lugar muito fácil de andar com a cadeira de rodas, o chão batido dificulta a locomoção, mas ainda assim eu costumo me aventurar.

Tentando evitar um percurso muito longo empurrando minha cadeira, tentamos acesso em uma entrada que dizia "somente veículos credenciados". Mas, apesar do aviso, tínhamos certeza de que teriam o bom senso de nos deixar passar, visto que nosso carro possui as credenciais de veículo de deficiente físico.

Qual não foi nossa surpresa ao sermos barradas! Sim, o segurança insistiu que somente veículos credenciados, ou seja, de pessoas que estavam acampadas no Parque, poderiam passar.

Apelamos para o bom senso do rapaz, falamos sobre a lei, mostramos os inúmeros adesivos... Nada adiantou, ele ficou irredutível e não permitiu que entrássemos, a não ser que conseguíssemos a bendita credencial.

Meu tio, que possui credenciamento, veio ao nosso encontro e também tentou argumentar. Não bastasse a intransigência do segurança, sofremos também com a omissão da Brigada Militar, que observava tudo e nada fazia.

Enfim, após muita discussão, adentramos no local. Apesar de tantos protestos e argumentos, o segurança não se convenceu e mostrou-se contrariado quando conseguimos passar.

Entendo que existiam ordens superiores, não sei ao certo de quem, de não deixar passar nenhum veículo que não estivesse credenciado. Porém, mesmo nesses casos, deve existir o bom senso. Toda regra tem sua exceção, principalmente quando se trata de humanidade. Palavrinha simples essa, HUMANIDADE, mas que está em falta por aí.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Passeata do Movimento SuperAção em Porto Alegre


Finalmente, fez um domingo de sol em Porto Alegre! Já há algumas semanas o frio e a chuva tomavam conta dos sábados e domingos (principalmente se eu estivesse de folga), mas ontem São Pedro presenteou os gaúchos com um dia lindo e quente.

Então, nada como curtir o Parque da Redenção e aproveitar a trégua da chuva, né? Eu e mais alguns "malacabadinhos" povoamos o parque, na primeira passeata do Movimento SuperAção em solo gaúcho.
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A ONG é formada por deficientes e "simpatizantes", pessoas que lutam por um mundo melhor e mais inclusivo. Desde janeiro, atua em Porto Alegre, com coordenação da publicitária Juliana Carvalho. Pois então, após alguns encontros no sudeste do país, a passeata finalmente chegou na capital dos gaúchos.
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E foi uma festa linda! Muita gente vestiu a camiseta (literalmente, olhem nas fotos, todos devidamente uniformizados). Um caminhão de som com apresentações artísticas animava a festa, embalada pelas bandas Angela Angel e Aline Love Band Club.
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É uma pena que o público estivesse aquém do que eu esperava. Há muito mais pessoas com deficiência em Porto Alegre do que aqueles que foram ao parque neste domingo. Acho que iniciativas como essa deveriam ser mais divulgadas pela grande mídia, vi apenas alguns blogs, como o do Jairo Marques, convidando o pessoal para o evento.
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Mas valeu, foi possível ver que estamos prontos pra dominar a Redenção, Porto Alegre, o Brasil e o Mundo!
Fotos: Arquivo Pessoal

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Reclamar adianta, sim!

A última vez que postei aqui, contei a fatídica história do cinema GNC, no Shopping Praia de Belas. Como ultimamente adotei a postura "cidadã consciente", mandei um e-mail para a empresa, reclamando da situação.
Confiram a resposta abaixo:
Prezada Michele,
Primeiro gostaríamos de pedir desculpas pelo transtorno e já fazer alguns comentários a respeito da nossa preocupação com a questão da acessibilidade no GNC Praia de Belas.
No ano passado iniciamos uma reforma nas salas que incluiu a construção de uma bilheteria com acesso preferencial na altura adequada e banheiros adaptados à portadores de deficiências.

Já em agosto,  estaremos iniciando a segunda fase desta reforma que é a construção de uma rampa pela parte externa do shopping para acesso às salas incluindo algumas adaptações na parte interna dos cinemas.  Para concluir gostaria de ressaltar que ainda no final de 2010 o GNC, em conjunto com este shopping iniciarão a construção de um novo complexo de cinemas com 7 salas no terceiro piso, totalmente planejado com todas as condições de acessibilidade aos nossos espectadores, a ser inaugurado em 2011.  As salas atuais serão desativadas.
Na expectativa de sua compreensão,
Equipe GNC Cinemas.
Viram só como de vez em quando adianta "colocar a boca no trombone"? Reivindicar nossos direitos não é crime, é fundamental para que as empresas e órgãos públicos tomem atitudes e não fiquem só nas promessas. Como sou brasileira e não desisto nunca, em 2011 estarei novamente no GNC Praia de Belas, pra conferir de perto se as modificações prometidas foram feitas. Não adianta só cobrar, é preciso fiscalizar se está tudo "nos conformes".

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Momento "ninguém merece" da semana


Sim, fazia tempo que eu não aparecia por aqui, reconheço. Mas não podia deixar de publicar mais um protesto, sobre algo que ocorreu comigo esta semana.
Na última terça-feira resolvi pegar um cineminha, fui assistir "Eclipse" (sim, eu gosto, e daí?). Pois bem, o que seria algo simples virou um pesadelo. Já comentei aqui que o GNC Iguatemi é completamente acessível a pessoas com deficiência. Mas como o filme só estava passando em outro GNC, no shopping Praia de Belas, lá fui eu, confiante de que não teria problemas. Afinal, é a coisa mais comum do mundo encontrar locais adaptados por aí (fui irônica).
Chegando lá, a escadaria me encarava, desafiadora, praticamente rindo da minha cara. Fui burra, deveria ter ligado, já que não conhecia o local... Ou melhor, conhecia, mas o último filme que eu tinha visto no tal cinema foi "O Rei Leão", quando ainda não usava cadeira de rodas. Ok, falha nossa, eu tinha que ter pesquisado melhor sobre o lugar, mas os ingressos já estavam comprados, então era tarde e Inês era morta (seja lá quem for essa pobre moça).
Uma das atendentes informou que eu poderia entrar por uma porta do lado de fora do shopping, que não haveria tanta escadaria. Sim, "tanta", porque ainda teríamos que galgar alguns degraus. Fiquei do lado de fora, esperando que abrissem a tal porta, quase congelando com o frio que fazia. Enfim, subimos os inevitáveis degraus e consegui me acomodar, mal e porcamente, pra finalmente assistir ao filme. Sem contar o discurso materno após a sessão: "Não faz mais isso, liga antes pra saber se tem acesso, etc...". Certo, minha culpa, minha máxima culpa, mereço cinquenta chibatadas depois dessa. Mas os infelizes que não pensaram em criar um acesso mais fácil a este, e a tantos outros locais da cidade, também merecem apanhar!
Tanto trabalho pra ver vampiros e lobisomens, só eu mesmo...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Serra gaúcha acessível



Sigo em férias, curtindo alguns dias na Serra Gaúcha. Mas como Murphy não me dá folga, uma bela gripe veio na bagagem. Desde ontem passeamos bastante, mas não pude aproveitar tanto quanto gostaria, graças à indisposição.
Mas pelo que pude reparar, as ruas de Gramado e Canela são bastante convidativas aos cadeirantes. As calçadas são planas e rebaixadas, não há nenhum obstáculo absurdo pelo caminho e quase todos os passeios em pontos turísticos possuem fácil acesso.
No Parque do Caracol, há caminhos acessíveis até o mirante, de onde é possível ver a Cascata. Pude chegar bem pertinho de imagens deslumbrantes, sem sustos.Só faltou ter uma vista mais completa no elevador panorâmico, mas minha mãe quase teve uma síncope quando falei em ir...
No Lago Negro, em Gramado, é claro que não me arrisquei nos pedalinhos. Mas pude andar em um carrinho por todo o local.
Foto: Arquivo Pessoal

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sim, ainda vivo


Estou aqui de novo... Não morri, não fui abduzida por extraterrestres nem fui sequestrada. Apenas andei sem tempo nem ideias novas pra atualizar, mas volto hoje para pelo menos dar satisfações.
As últimas semanas foram bem corridas. Entre trabalho, reta final do curso de inglês e muitas sessões de fisioterapia (ai, ai, ui, ui, andei tanto tempo parada que tudo dói a cada exercício), o querido bloguinho ficou abandonado.
Mas agora que as coisas se acalmaram, voltarei mais seguido. Principalmente porque estou de férias, curtindo alguns belos dias de sol e tempo bom em Gramado.
Aguardem...I'll be back.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Rally urbano



Tentar se locomover sobre rodas nas ruas de uma cidade é uma aventura épica. Sobram buracos, imperfeições e obstáculos intransponíveis, faltam rampas e rebaixamentos nas calçadas.
Às vezes tais barreiras estão nos lugares mais improváveis. Vejam que lindo esse poste no meio da calçada na foto acima. Esse absurdo está localizado em frente a uma clínica de fisioterapia, acreditem se quiserem. Como é possível passar uma cadeira de rodas por aí? A minha quase não passa, mas é infantil, se fosse uma cadeira grande seria impossível. Sem falar que não precisa ser deficiente pra sofrer com esse obstáculo, qualquer ser desavisado ou distraído corre o risco de dar de cara no poste.
A tal clínica fica em um prédio espelhado, muito bonito, localizado em uma das avenidas mais movimentadas de Porto Alegre. Porém, não há estacionamento próximo e, pasmem, me deparei com dois degraus na entrada. Fisioterapia não é para pessoas com dificuldades físicas?Como eu já disse por aqui, mesmo com boas intenções, falta visão das pessoas, que não percebem como detalhes arquitetônicos e físicos fazem a diferença.
Foto: Arquivo Pessoal

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Descarregando o material...


Da série: "minha vida é uma comédia"...
Ser cadeirante é uma aventura diária. Não são poucas às vezes em que somos tratados como objetos literalmente. Usar elevador de carga, ser levada escada abaixo ou acima como se fosse uma coisa qualquer já são fatos normais do meu cotidiano.
Mas quando eu acho que já passei por tudo nessa vida, acontecem coisas que superam as expectativas. Outro dia, chegando pra mais um dia de aula de Inglês na PUCRS, minha mãe pediu a um dos seguranças, como faz sempre, autorização para estacionar em frente ao prédio onde eu estudo. Eis que o rapaz pergunta, sem a menor cerimônia:
- Ah, a senhora vai descarregar o material?
Oi? Como assim? Tá falando de mim, moço? Minha mãe apontou para o adesivo enorme no vidro do carro, indicando veículo que transporta cadeira de rodas, mesmo assim ele custou a entender. Piadista, ela respondeu, apontando para mim, que eu era o material a ser descarregado. Moço, alooooou, o "material" aqui estuda, trabalha, passeia, tem vida social, sabia?
É claro que situações como essa rendem boas risadas em família. Sei que vou ser chamada de "material" por algum tempo lá em casa... Mas, falando sério, me assusta um pouco a falta de noção, percepção, visão ou seja lá o que for das pessoas.
Não há o que não haja...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Só pra contrariar

É, pelo jeito a moda dos cadeirantes na mídia veio pra ficar. A novela Viver a Vida abriu portas, fez com que muita gente visse os deficientes como pessoas capazes de ter uma vida normal, namorar, trabalhar, estudar, apesar das limitações.

E não é que, como diz o tio Jairo, o pessoal "malacabado" tá dominando o mundo? Fico muito feliz de ver a repórter Flávia Cintra apresentando matérias no Fantástico, como uma boa jornalista que se preze. Nada sobre reportagens voltadas para pessoas com deficiência, a moça apresenta assuntos do cotidiano, sem o estigma da "repórter cadeirante".

Flávia Cintra, a inspiração de Manoel Carlos para a personagem Luciana, é um dos muitos exemplos de que deficiência física não impede ninguém de seguir a profissão que quiser. Isso é pra dar uma lição em quem acha que as barreiras físicas são impedimento para uma boa atuação profissional.

Há alguns meses, uma matéria do Jornal Hoje, ao citar os problemas que os deficientes enfrentam para ingressar no mercado de trabalho, fez uma "tabelinha" especificando que tarefas as pessoas com diferentes tipos de deficiência devem exercer. Segundo a "lógica burra" da reportagem, pessoas com deficiência física só teriam capacidade para exercer funções administrativas, financeiras ou de informática.

Ah, jura? Puxa, ninguém me avisou disso antes, eu fiz faculdade de Jornalismo, não podia? Aliás, assim como eu, Jairo MarquesFlávia Cintra e tantos outros estão aí pra desafiar a lógica e o senso comum. Quer dizer que deficientes não podem ser jornalistas, professores, advogados, atores, modelos, médicos? Nada disso! Não se esqueçam de que, junto com as limitações, Deus acrescentou ao pacote das pessoas com deficiência muita teimosia e coragem pra mostrar que nada é impossível.

sábado, 15 de maio de 2010

Não é coisa de novela



A novela Viver a Vida, que terminou ontem, abriu espaço para muita discussão em torno dos problemas dos deficientes. Mais do que isso, pautou a mídia, que diariamente apresentava matérias especiais sobre o assunto e mostrava pessoas com deficiência superando obstáculos do dia-a-dia.

Mas a realidade da personagem Luciana era bem distante da maioria dos deficientes físicos. Por ser de família rica, a reabilitação, os equipamentos, cadeiras de rodas de última geração, tudo era bem mais fácil.

Sabem quanto custa a cadeira de rodas da Luciana? Quase 7 mil reais! Esse é o preço da cadeira manual, não a motorizada, que deve ser mais cara ainda. Somente as rodas custam 2.500! Então, pra "viver a vida" de Luciana, é preciso muito investimento.

A verdade é que no mundo fora da novela, muita gente passa por apertos financeiros que não permitem o conforto necessário. Eu, por exemplo, pesquiso muito antes de trocar minha cadeira de rodas, que nem é das mais caras. E quem me dera ter uma sala de fisioterapia em casa, uma handbike, uma junta médica sempre à disposição, como a personagem da novela...

Sessões de fisioterapia, acesso a educação ou simplesmente a vivência diária de pessoas com deficiência não são nem de perto aquela magia que Manoel Carlos mostrou. Queria ver em novelas um cadeirante sem condições financeiras, tendo que pegar ônibus, nem sempre adaptados, batalhar pra conseguir reabilitação gratuita, entre tantos problemas que fazem parte realidade de milhões de brasileiros.
Mas o primeiro passo já foi dado, que venham outras Lucianas, mostrando que a novela pode fazer um grande papel social.
Foto: Divulgação, TV Globo

terça-feira, 4 de maio de 2010

Vagas privativas: um fetiche!



É incrível como certas pessoas têm uma certa atração por lugares destinados a deficientes. Vagas no estacionamento, banheiros adaptados, tudo o que tiver aquele adesivo de cadeira de rodas, é certo que será usado por pessoas que não precisam.

Nos estacionamentos, seja em áreas públicas ou privadas, o caso é mais sério. Basta ir a qualquer shopping ou supermercado e ver que os lugares para cadeirantes sempre ocupados, a maioria por quem não possui nenhum problema de locomoção.

Está na lei, para estacionar nesses locais, deve haver uma autorização do Governo para isso, como esta aí acima. Não basta só aquele adesivo comum com um desenho de cadeira de rodas. A autorização é dada somente a pessoas que comprovarem a deficiência, por meio de atestado médico. Na teoria é muito bonito, mas na prática...{#}

No Brasil, as leis existem para serem descumpridas. Falta fiscalização e informação, sobra desrespeito. Sim, é muito mais fácil deixar o carro pertinho da porta de entrada, mas e quem realmente precisa dessa facilidade, como fica? No domingo fui ao shopping, e todas as DEZ vagas de estacionamento para deficientes estavam ocupadas. Fiquei cuidando se no local havia tantos malacabadinhos (como diz o Jairo), até achei que fosse alguma convenção regional de cadeirantes {#}, mas contei apenas TRÊS pessoas usando cadeira de rodas.

Nos banheiros adaptados, quando existem, o problema é o mesmo. As pessoas "normais" acham o máximo aquele banheiro enooooorme, muito melhor do que as cabines apertadinhas, né? Pois é, mas apertada fico eu, quando chego nos banheiros privativos e há alguém lá dentro. Outro dia mesmo, no shopping, vi um rapaz sair do sanitário masculino para deficientes, bem lépido, faceiro e pimpão, caminhando e sem nenhuma deficiência (só se for mental!). {#}

O pior é que se algum cidadão consciente resolve reclamar, acaba apanhando...{#}
Imagem: Reprodução

terça-feira, 27 de abril de 2010

Por onde anda o respeito?

Gente, parece que o mundo virou de cabeça pra baixo, anda todo mundo doido, fazendo coisas que até Deus duvida. Falta de educação e intolerância são as palavras mais "leves" pra descrever tantas barbaridades que a gente vê por aí...

Mas, por sorte, falar em direitos dos deficientes está na moda. Então, situações que há um tempo passariam despercebidas, tomam uma repercussão muito maior.

Vejam o que aconteceu semana passada, quando um homem foi brutalmente agredido, tudo por chamar a atenção de uma criatura que havia estacionado na vaga de deficientes.

Em que mundo vivemos? Não bastasse a falta de respeito ao usar o estacionamento privativo, tirando o lugar de quem precisa, o cidadão sentiu-se ofendido e partiu pra ignorância, espancando uma pessoa que só estava ali para defender um direito dos deficientes físicos. O homem agredido é pai de uma cadeirante, sabe o que é enfrentar o desrespeito da população diante de vagas privativas no estacionamento, calçadas irregulares e tantos outros dramas vividos por quem tem dificuldade de locomoção.

O agressor tentou se defender, disse que foi ofendido e que estacionou na vaga por não ter visto que era destinada a cadeirantes. Ah, tá, conta outra... Os lugares privativos, seja em estacionamentos, banheiros e outros raros locais destinados a deficientes, possuem uma marcação ENORME, com uma bela cadeira de rodas ilustrando para não ter erro.

A questão das vagas no estacionamento é um problema crônico. O famoso "JEITINHO BRASILEIRO" fala mais alto. É claro que fica mais cômodo deixar o carro mais perto da porta de entrada dos estabelecimentos, né? Mas educação e respeito deveriam prevalecer nesse mundo que já sofre com tantas mazelas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Ser cadeirante está na moda

Em primeiro lugar, peço desculpas pela falta de atualização. Ando em fase de mudanças na minha vida profissional, ainda tentando me adaptar à nova rotina. Foram mudanças positivas, posso assegurar, mas leva um tempo para acostumar às novidades.

Pois bem, voltemos aos trabalhos!
A atual novela das 20h, Viver a Vida, está ditando uma nova moda: ser cadeirante! Os dramas vividos pela personagem Luciana (Alinne Moraes) não são retratados apenas na novela. Os telejornais, revistas e a mídia em geral não se cansam de divulgar os dilemas das pessoas com deficiência. Só no Fantástico, já vi reportagens sobre ônibus adaptados, sexualidade dos cadeirantes, entre outras.

Acho ótimo que as atenções estejam voltadas para o assunto. É muito importante mostrar que cadeirantes têm vida social, sexual, estudam, trabalham e, acima de tudo, precisam que as cidades ofereçam condições para isso.

Só espero que o tema não morra assim que acabar a novela. Afinal, após o último capítulo de Viver a Vida, Alinne Moraes irá se despedir da personagem e continuar levando sua vida normal, sem limitações. Mas os milhões de deficientes que existem por aí seguirão enfrentando os mesmos problemas de infraestrutura, preconceito e falta de inclusão.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Parece miragem...e é!



Neste verão resolvi fugir da aglomeração do litoral e fui curtir a serra. Foram cinco dias maravilhosos em Gramado, com direito a passeios por Canela e São Francisco de Paula.

Foi em São Chico que tive uma agradável surpresa. Há algum tempo li uma reportagem sobre a Livraria Miragem e, como "rata de livraria" que sou, fiquei doida pra conhecer o lugar.

Chegando lá, fiquei encantada com o espaço que a professora de história Luciana Soares criou para o deleite de seus visitantes. O nome da livraria não poderia ser mais apropriado: um lugar daqueles, em meio a uma cidadezinha tão pacata, parece Miragem mesmo...

O ambiente bucólico lembra muito aquelas livrarias antigas de filmes, com objetos e quadros que retratam a história da cidade. Mas o que mais me surpreendeu foi a acessibilidade. O prédio antigo, de três andares, é todo adaptado a deficientes físicos!

Há rampas por todos os lados, elevador e, pasmem, um banheiro adaptado! Dona Luciana me mostrou, toda orgulhosa, que eu poderia circular livremente por ali, conhecer os três andares, fazer "pipi" com todo o conforto, já que ela havia pensado em tudo para que todos pudessem desfrutar com igualdade do lugar.

Ah, Luciana não esqueceu dos pequenos leitores. Há um banheiro especialmente projetado para crianças, todo em miniatura, um mimo!
Nos fundos da livraria, há uma réplica do antigo Clube do Comércio de São Chico, que Luciana transformou em uma espécie de museu que conta um pouco dos primórdios da cidade. Para chegar até o museu há uma bela...rampa!

Saí de lá maravilhada e feliz que, em uma cidade do interior, há um lugar muito mais preparado para receber as pessoas com deficiência do que muitas grandes livrarias da Capital.

Encontrar lugares com infraestrutura adequada a deficientes não deveria ser uma surpresa, mas algo cotidiano em nossas vidas. Mas é bom saber que em São Francisco de Paula há uma Miragem, um espaço tão aconchegante que é exemplo de acessibilidade.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Marcas do que se foi


Se alguém me perguntar, hoje, se eu tenho o sonho de um dia poder caminhar, a resposta é não. Não sinto falta, juro. Como poderia me fazer falta algo que nunca fiz?

Sinto falta, isso sim,  das coisas que já fiz e que me foram tiradas por contingências da vida.

Tenho saudades de andar de bicicleta, já que há 15 anos uma cirurgia mal-sucedida restringiu os movimentos da minha perna. Antes, eu "voava" na minha bike...

Gostaria de voltar a jogar vôleibrincar de ioiôfazer as coreografias de axé de antigamente (meu passado me condena...). Após a última fratura no braço, esses simples prazeres não foram mais possíveis.

Enfim, são esses momentos tão singelos que me fazem falta. De tudo que já vivi e que agora são apenas lembranças.
Mas, apesar da saudade, não voltaria no tempo. A sabedoria que tenho hoje, mesmo com todas as perdas e limitações, não troco por nada. Aprendi a dar valor ao que tenho, que pode ser menos do que há alguns anos, mas ainda assim é suficiente pra eu continuar na batalha da vida.

Nada substitui o aprendizado constante que até mesmo (e principalmente) os momentos difíceis proporcionam.

quarta-feira, 31 de março de 2010

O Vestibular da exclusão



A discriminação, infelizmente, é algo que ocorre em todas as sociedades. Seja por raça, classe social, sexo, ou simplesmente com o que é tido como "diferente". Pessoas com deficiência sentem isso na pele, mesmo que em algumas situações o preconceito esteja disfarçado...

Foi o que ocorreu comigo em 2001, quando fiz meu primeiro Vestibular para jornalismo, em uma Universidade Federal. Na inscrição, pedi fácil acesso, obviamente. Ao divulgarem os locais de provas, meu estranhamento inicial foi com o endereço onde eu deveria fazer Vestibular, um pouco longe de onde eu morava.

Mas tudo bem, pensei, talvez o tal prédio fosse o único preparado para receber candidatos com deficiência. No primeiro dia de provas, percebi que eu estava errada. O tal local de "fácil acesso" era um dos prédios mais antigos da Universidade, o elevador era totalmente inseguro e com um degrau enorme, além de não haver ao menos um ventilador na sala (em pleno janeiro, imaginem que delícia {#}).

Mas o pior não foi isso. Olhei em volta e vi que todos os deficientes, com os mais variados tipos de limitações, estavam destinados àquele prédio. Ou seja, foram separados dos candidatos "normais", como se tivéssemos alguma doença contagiosa. Foi mais ou menos como ocorreu com os negros americanos nos anos 60, que eram proibidos de frequentar os mesmos lugares que os brancos.

Comecei a me sentir muito mal com tudo aquilo. Antes de iniciar a prova, desabei em prantos, pedi a minha mãe pra ir embora, estava revoltada e me sentindo humilhada diante de todos aqueles absurdos. Minha mãe, como sempre, fez com que eu me acalmasse e prometeu que iria resolver o problema, falaria com alguém na reitoria da Universidade para que eu trocasse de prédio.

O impasse foi resolvido rapidamente. Nos outros dias de Vestibular, pude fazer as provas no colégio onde estudei a vida toda, em uma sala no térreo, junto a todos os candidatos. Inclusive, era onde estavam os vestibulandos de Jornalismo. O curso ao qual eu estava concorrendo, vejam que coincidência!

Entretanto, até hoje me sinto culpada, já que os outros candidatos com deficiência continuaram naquele local precário, segregados, sem o mínimo de condições para realizar um bom concurso. Até hoje não entendo a noção de "fácil acesso" que foi utilizada naquele Vestibular.

O resultado final da maratona de provas foi ruim para mim, em todos os sentidos. Não esperava passar na primeira tentativa, ainda mais na Federal, em um curso concorrido. Só esperava um pouco mais de respeito pelos deficientes, para os quais a vida já é tão difícil. Inclusão, como o nome já diz, é integrar as pessoas com necessidades especiais a uma sociedade, não separá-los do resto do mundo.
Imagem: Divulgação

quinta-feira, 25 de março de 2010

No meio do caminho tinha um buraco...

Esta semana, a novela Viver a Vida mostrou como os cadeirantes sofrem ao circular pelas calçadas de uma cidade. A personagem Luciana, vivida por Alinne Morais, sentiu na pele como um simples passeio pelas ruas é uma aventura para quem tem deficiência física. Espero que mostrar isso em horário nobre sirva de alerta, quem sabe um primeiro passo para consertar as barreiras que as áreas urbanas nos impõem?

Há exatos sete anos, uma calçada esburacada mudou minha vida. As rodas da frente da cadeira ficaram presas e eu caí, quebrando o braço e a perna direitos. Desde então, ainda não recuperei a mobilidade do braço, portanto deixei de fazer movimentos importantes, como sair da cadeira de rodas sozinha pra outros lugares. Um grande estrago por conta de uma simples imperfeição da calçada...

Assim como eu, muitos cadeirantes vivem um verdadeiro "rally" ao tentar vencer os obstáculos impostos pelas cidades. São calçadas mal feitas e sem rampas, ruas cheias de buracos e muitos outros problemas. Isso não afeta apenas a vida dos cadeirantes, pessoas idosas e crianças pequenas também sofrem. Outro dia o Diário Gaúcho publicou uma matéria sobre isso, leiam aqui.

Cadeirantes precisam sair pra rua, trabalhar, estudar, viver! Foi-se o tempo em que o deficiente, coitadinho, ficava em casa, sendo um peso para a família. Hoje em dia superamos muitas barreiras, mas os problemas arquitetônicos acabam impedindo ou restrigindo nosso direito de ir e vir.

segunda-feira, 22 de março de 2010

É só olhar para o lado...

Se há um sentimento que eu nunca tive é auto piedade. É claro que, algumas vezes, tive aqueles momentos de pensar "por que eu?" Mas foram raros, pois sempre fui orientada pela minha família a olhar em volta, perceber que há pessoas em situações muito piores.

Há alguns anos, após quebrar o braço e a perna ao cair da cadeira, passei por um momento de revolta diante daquilo tudo. Principalmente após o diagnóstico do ortopedista, de que meu braço não voltaria a ser como antes, que uma cirurgia seria arriscada demais e ainda poderia piorar a situação. Saí do consultório me sentindo a última das criaturas, pensando: "puxa, minha vida já era tão difícil, não precisava piorar".

Mas parece que alguém lá em cima mandou um sinal para que eu analisasse as coisas de outra forma.

Fui fazer meu CPF em uma agência bancária, onde quem me atendeu foi um rapaz que também era cadeirante. Mas aquele funcionário, além de não caminhar, também tinha dificuldades para falar e mexer o resto do corpo.

Naquela hora, meu estado de espírito mudou. Eu estava ali, apenas com uma pequena dificuldade de mexer o braço esquerdo, enquanto diante de mim estava uma pessoa com paralisia cerebral, lutando para abrir gavetas e se comunicar com os outros.
Cada um carrega sua cruz, mas logo ali ao lado, há pessoas carregando fardos muito mais pesados. Do que eu posso reclamar? Tenho movimentos, ainda que restritos, em todo o corpo. Meu cérebro funciona muito bem, obrigada. As limitações existem, é claro, mas são tão insignificantes diante de tudo o que eu posso fazer.

Existe um provérbio chinês que resume muito bem tudo isso: "Eu estava furioso por não ter sapatos; então encontrei um homem que não tinha pés e me dei por muito satisfeito."

quarta-feira, 17 de março de 2010

No escurinho do cinema



Foi-se o tempo em que pessoas com deficiência ficavam trancadas em casa, reclamando da vida. Ainda bem que, hoje em dia, muita gente resolveu "sair da casca", seguir em frente sem medo, ter vida escolar, acadêmica, profissional e, é claro, social.

Aí é que está o problema. Ir a danceterias, bares, cinemas ou teatros é quase sempre uma aventura pra quem usa cadeira de rodas. Os cinemas são um grande exemplo da falta de infraestrutura que acomete as grandes cidades.

Em Porto Alegre, a maioria das salas de cinema que costumo frequentar possui escadarias, degraus e não há lugares específicos para cadeirantes. Quando perguntei se havia espaços reservados, indicaram que eu ficasse na primeira fila.
Ah, que ótimo! E o torcicolo? Sem contar que não se enxerga absolutamente nada, é quase dentro da tela!

Mas, como sou teimosa, continuei frequentando os cinemas, mesmo tendo que subir vários degraus (com ajuda, é claro). Mas é um absurdo passar tanto trabalho, por conta de uma coisa tão simples como ver um filminho, né?

Eis que surge uma luz no fim do túnel. Recentemente, arrisquei ir pela primeira vez ao GNC Iguatemi, em funcionamento há pouco mais de um ano. Ao escolher os lugares, a atendente me indicou os reservados para cadeirantes. Como? Existe isso? Siiiim, e não para por aí! Os espaços são a uma distância "decente" da tela e há rampas por todos os lados.

É, demora mas às vezes encontramos ações que beneficiam pessoas com deficiência. Já está mais do que na hora de expandir esse tipo de "novidade" para todas as áreas de lazer.
Foto: Divulgação, GNC

terça-feira, 16 de março de 2010

E se...




É inerente ao ser humano ficar remoendo o passado, pensando em quantos caminhos diferentes poderiam ser trilhados caso algumas coisas ou decisões tivessem sido diferentes.

Penso muito nisso...

E se... eu não tivesse feito a cirurgia na perna, 15 anos atrás? Antes, eu andava de bicicleta, mexia bem (e muito) a perna esquerda, mas acabei perdendo a mobilidade e tendo que usar cadeira de rodas por conta de uma intervenção mal-sucedida.

E se...eu tivesse prestado mais atenção naquela calçada que me fez cair, provocando duas fraturas sérias há seis anos? Meu braço nunca se recuperou, não posso mais sair sozinha da cadeira como fazia antes.

Mas de que adianta viver olhando para o passado, já que não há máquina do tempo que nos faça voltar atrás e tomar decisões diferentes?
O jeito é viver a vida (parafraseando Manoel Carlos) visando o futuro, fazendo planos. pois, sobre o que ainda está por vir nós temos pleno controle. É muito mais eficaz usar os erros do passado como aprendizado, não como forma de martírio.

Deixemos o "Se" para a belíssima interpretação de Djavan:
Foto: Arquivo pessoal

segunda-feira, 15 de março de 2010

As longas escadas da vida



Obstáculos como degraus e escadas são rotina na vida dos cadeirantes, a verdade é que a maioria das cidades brasileiras não possui infraestrutura adequada para pessoas com deficiência.

Ano passado, ao fazer minha inscrição em um concurso público, manifestei minha condição de cadeirante e que precisava de fácil acesso. Ao chegar ao local de prova, qual não foi minha surpresa ao ver uma imensa escadaria (observem a foto acima).

Fiquei algum tempo pasma, pensando se o erro havia sido meu, que talvez tivesse assinalado a opção errada na hora da inscrição. Mas não, estava nos documentos, em letras garrafais: CANDIDATO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA - NECESSITA DE FÁCIL ACESSO.

Após o susto inicial, pensei em desistir da prova, não queria ser carregada pelas escadas, correndo um risco desnecessário. Mas, após eu ter me acalmado, minha mãe conseguiu me convencer a encarar o problema de frente, ou seja, subir a maldita escadaria.

Alguns fiscais ajudaram a subir, logo eu que havia jurado não mais enfrentar escadas, já que passei cinco anos da minha vida escolar sendo carregada pelas escadas do colégio...

Não bastassem os degraus da frente do prédio, a sala onde eu deveria ficar era no terceiro andar, ou seja, mais alguns lances de escada pela frente. Assim, fizeram a "gentileza" de deixar que eu ficasse no térreo, não sem antes explicar para as pessoas daquela sala porque eu estava ali. Fui humilhada, como se estivesse ocupando lugar em um espaço que não era meu. Precisava?

Fato é que, apesar de ter me preparado, não tinha condições psicológicas para fazer uma boa prova.

Reuni documentos e levei a uma advogada, para contestar o ocorrido. Há quase um ano espero alguma posição dela, que falou  em pesquisar jurisprudência. Mas situações como essa acontecem bastante e mover um processo contra aquela instituição, no mínimo, alertaria para tomarem maior cuidado com os “diferentes”.
Foto: Arquivo pessoal

sábado, 13 de março de 2010

Momento de autopromoção

Não bastasse eu colocar minhas ideias neste espaço, também resolvi aparecer um pouquinho em outro blog. O querido Jairo Marques, que mantém o Assim como Você, publicou ontem um texto que escrevi, onde conto um pouco da minha história. Vale o acesso, não só nesse post, mas em todo o blog.

Confiram aqui!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Eu fico com a pureza das perguntas das crianças...



Voltando ao assunto "crianças"... Uma vez fui convidada por professoras do meu antigo colégio a conversar com os alunos sobre minha deficiência, já que o tema da Campanha da Fraternidade naquele ano era: “Fraternidade e Pessoas com Deficiência”.

Assim, respirei fundo e resolvi aceitar o desafio de saciar a curiosidade de centenas de alunos. A primeira turma com quem conversei foi da 1ª série do Ensino Fundamental, onde fui recebida com um misto de espanto e muita, mas muita curiosidade.

Assim que a avalanche de perguntas começou, ouvi algumas "pérolas" como:

- Como é que ela dorme?
Pensei em responder: "Fechando os olhos, ué!", mas lembrei que a maioria daqueles pequenos seres de 6, 7 anos, não devia ter contato com cadeirantes. A dúvida era se eu dormia na cadeira de rodas (bom, talvez no meio da aula...). Respondi que saio da cadeira e vou pra cama, como qualquer pessoa eu consigo deitar, gente!

- Como é que ela nasceu?
Antes que eu respondesse, uma das crianças se adiantou: "O pai e a mãe dela fizeram sexo, né!" É, nunca subestime a esperteza infantil...

Observem que eles usavam a terceira pessoa, perguntando à professora, e não a mim, que estava ali em frente. Isso, aliás, muitos adultos também fazem, acham que além de não poderem caminhar, cadeirantes não sabem falar.

A conversa fluiu muito bem, é claro que respondi a todas as questões com naturalidade, e tenho certeza de que aqueles meninos e meninas saíram dali com outra visão a respeito dos deficientes. Muitos vieram me abraçar, ganhei desenhos feitos especialmente pra mim e alguns amiguinhos, que com certeza crescerão sabendo respeitar as diferenças.
Imagem: Divulgação

quinta-feira, 11 de março de 2010

Curiosidade infantil

A ideia desse post veio do comentário que meu primo Rodrigo fez ontem no blog: "vejo ela como cadeirante desde pequeno..."  {#}

Comecei a pensar nas crianças que conviveram e convivem comigo, principalmente meus primos e minhas irmãs, que sempre lidaram com minha deficiência de forma muito natural. Algumas coisas nem era preciso ensinar, foi tudo intuitivo, com a sensibilidade que só as crianças têm pra compreender a vida.

O Rodrigo e minhas manas Naty e Lelê, que são bem mais novos que eu, aprenderam a empurrar minha cadeira quando mal sabiam caminhar, sempre cheios de cuidados e com muito carinho, encontrando maneiras especiais de brincar comigo.

Atualmente, quem está dando os primeiros passos (literalmente) na convivência com uma cadeirante é minha afilhadinha, Gabriela. A lindinha da dinda, com menos de dois anos, já sabe me empurrar, e aprendeu a subir sozinha na minha cadeira pra ganhar colo.

Por outro lado, as crianças que não me conhecem, olham cheias de curiosidade. Algumas chegam e fazem perguntas, ou simplesmente ficam "encarando". Eu até entendo, acho normal que nos primeiros anos de vida o "diferente" gere espanto. O que não dá pra entender é o preconceito dos adultos, estes já deveriam estar conscientes de que
 "ser diferente é normal".

quarta-feira, 10 de março de 2010

Cadeirante sim, e daí?


Certas palavras servem como definição ou como rótulo? Hoje em dia ser politicamente correto está na moda, tanto que algumas pessoas têm medo de palavras simples como “cadeirante” ou “deficiente”. Há quem prefira o termo “pessoa com necessidades especiais” , mas pra que enfeitar? Sou cadeirante, sim! Sou PCD (pessoa com deficiência), sim!

Ontem mesmo passei por uma situação que ilustra bem isso.  No próximo domingo farei um concurso público, para o qual pedi fácil acesso.  Resumindo, ligaram pra dizer que eu poderei ir de carro até bem perto do prédio onde farei a prova. O que achei engraçado foi o tom da moça:
- Michele, já que tu tens...ahn...problemas de locomoção...ahn...não consegue caminhar, né? Poderás estacionar bem perto do prédio, etc...

Gaguejou, enrolou e não disse a palavra: CADEIRANTE. Não dói, é simples. Por que o medo? Não é palavrão, é uma definição, como tantas outras: cadeirante, gaúcha, jornalista, mulher, brasileira... Um termo tão simples, mas que é difícil de ouvir por aí com naturalidade. Não é ofensa, é apenas uma palavra, que não me define como pessoa. Afinal, parafraseando Shakespeare“O que é um nome? Uma rosa, se não se chamasse rosa, teria o mesmo doce perfume”.
Imagem: Divulgação

Por que "Bem Capaz"?


Ficar parada em casa vendo a vida passar? Bem capaz!
Deixar de ir a algum lugar só porque não tem acesso? Bem capaz!
Abandonar meus sonhos por causa dos obstáculos no caminho? Bem capaz!
Estou nesse mundo pra provar a todos e a mim mesma que posso fazer o que quiser, mesmo sem poder caminhar. Por quê? Porque sou Bem capaz!

Eis-me aqui...


Pois bem, após muitos apelos dos meus "fãs", aqui estou inaugurando esse cantinho, pra mostrar ao mundo alguns recortes do meu cotidiano.

Há muito tempo eu ouço pessoas me perguntando: "Michele, por que tu não crias um blog?". Normal, já que estudei jornalismo pois sempre amei escrever, mas ultimamente ando meio relapsa com esse meu lado criativo. Mas agora tenho onde despejar tantas ideias, angústias e agruras do meu dia-a-dia. Quem sabe não serve como uma "terapia virtual"?


Este é o segundo blog "Bem Capaz". O primeiro foi uma ideia conjunta com duas amigas, mas acabamos não levando adiante por incompatibilidade de agendas. Espero manter esse novo filhote com disciplina, sem mais um abandono. {#}