terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O dia do inferno astral

Há dias em que simplesmente tudo acontece. Não sei se é um alinhamento dos planetas, inferno astral, azar ou se, naquele dia, estou mais sensível ao que acontece ao redor.
A verdade é que hoje foi um desses dias. Saí de casa cedinho pra ir a uma consulta médica, uma avaliação para que eu tente conseguir um aparelho auditivo gratuitamente. Sim, porque um dos meus "defeitinhos de fabricação" é ser meio surdinha. A perda auditiva vai se agravando com o tempo em pacientes com Osteogênese Imperfecta, e ultimamente tem me incomodado bastante ter que perguntar toda hora: "quê? hein?".
Pois então, já na chegada ao hospital, a recepcionista mandou que eu entrasse em uma fila para ser atendida. É, a velha lei de que cadeirante tem prioridade de atendimento quase sempre fica só na teoria. Obedeci, esperei a fila andar e, ao ser atendida, outro probleminha. O balcão altíssimo impedia a moça de me enxergar, tive que ficar lá, balançando os braços, para ser vista.
Enfim, consulta feita, hora de realizar uma audiometria, exame que ajuda a detectar a perda auditiva. Foram duas horas de espera até eu ser atendida. Resignada, comentei com minha mãe: "o que são duas horas pra quem terá que esperar dois anos por um aparelho?". Sim, porque o Governo até fornece aparelhos auditivos, mas são apenas 40 por ano, sendo que a fila de espera é de cerca de 600 pessoas. Sendo assim, segundo o médico, são dois anos até ser chamada.
Mais uma surpresinha: a médica queria que eu entrasse em uma cabine cuja porta era estreita demais, portanto a cadeira de rodas não passava. Sem noção, a doutora perguntou:
- Mas ela não vai no colo?
Não é a primeira vez que um exame simples vira uma "novela", como já contei aqui.
Resumindo, pela minha cara de insatisfação, ela percebeu que lá eu não entrava nem amarrada. Fiz o exame em outra sala, onde a cadeira entrava perfeitamente.
Fim da saga? Nããããão!
Saindo do hospital, fomos dar uma voltinha no supermercado. No estacionamento, minha mãe se preparava para colocar o carro na vaga para deficientes, quando um taxista se atravessou na frente, pronto pra ocupar um lugar que não lhe pertencia. Se não fosse um segurança chamar a atenção do moço, ele tinha estacionado na vaga privativa, na maior cara-de-pau.
Antes das compras, fui fazer um "pipi-stop" básico, mas adivinha se o banheiro pra cadeirantes estava desocupado? Uma senhora saiu lá de dentro bem lépida e faceira, e ainda deu a tradicional desculpinha esfarrapada:
- Só entrei aqui pra lavar as mãos.
Bom, agora vai dar tudo certo, pensei. Ó, santa ingenuidade! A porta do banheiro estava sem chave, porque cadeirante não precisa de privacidade, né? Já até comentei isso no último post... Minha mãe teve que ficar "de guarda" na porta, ainda assim quase fui pega com as calças na mão, literalmente, quando a moça da limpeza tentou entrar.
Depois disso tudo, achei melhor ir pra casa e não sair mais. Hoje a bruxa tava solta...
E tem gente que acha minha vida fácil.{#}

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