segunda-feira, 22 de março de 2010

É só olhar para o lado...

Se há um sentimento que eu nunca tive é auto piedade. É claro que, algumas vezes, tive aqueles momentos de pensar "por que eu?" Mas foram raros, pois sempre fui orientada pela minha família a olhar em volta, perceber que há pessoas em situações muito piores.

Há alguns anos, após quebrar o braço e a perna ao cair da cadeira, passei por um momento de revolta diante daquilo tudo. Principalmente após o diagnóstico do ortopedista, de que meu braço não voltaria a ser como antes, que uma cirurgia seria arriscada demais e ainda poderia piorar a situação. Saí do consultório me sentindo a última das criaturas, pensando: "puxa, minha vida já era tão difícil, não precisava piorar".

Mas parece que alguém lá em cima mandou um sinal para que eu analisasse as coisas de outra forma.

Fui fazer meu CPF em uma agência bancária, onde quem me atendeu foi um rapaz que também era cadeirante. Mas aquele funcionário, além de não caminhar, também tinha dificuldades para falar e mexer o resto do corpo.

Naquela hora, meu estado de espírito mudou. Eu estava ali, apenas com uma pequena dificuldade de mexer o braço esquerdo, enquanto diante de mim estava uma pessoa com paralisia cerebral, lutando para abrir gavetas e se comunicar com os outros.
Cada um carrega sua cruz, mas logo ali ao lado, há pessoas carregando fardos muito mais pesados. Do que eu posso reclamar? Tenho movimentos, ainda que restritos, em todo o corpo. Meu cérebro funciona muito bem, obrigada. As limitações existem, é claro, mas são tão insignificantes diante de tudo o que eu posso fazer.

Existe um provérbio chinês que resume muito bem tudo isso: "Eu estava furioso por não ter sapatos; então encontrei um homem que não tinha pés e me dei por muito satisfeito."

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